Se você pensa que a pior gafe que alguém pode cometer seja colocar uma garrafa de vinho tinto dentro de um balde de gelo, acredite, existem gafes muito piores!
Há alguns anos, comecei a me aventurar na venda de vinhos de renome. No entanto, confesso que meu conhecimento sobre o assunto era limitado. O que eu sabia mesmo, era escolher alguma garrafa na prateleira do supermercado, e geralmente fazia isso pelo preço, e meu conhecimento terminava por aí. Não conhecia vinhos franceses, espanhóis ou outros vinhos do novo mundo. Meu contato com vinhos portugueses se resumia a apreciar uma tacinha de vinho do porto de vez em quando. Imaginem se eu ia saber algo sobre vinhos americanos ou outros tesouros vinícolas!
Quando iniciei como vendedor de vinhos, um dos meus primeiros clientes, um brasileiro que me contatou diretamente na Itália, comprou seis garrafas de vinhos italianos. Não eram dos mais caros, mas também não eram tão baratos. Esse tipo de cliente, de gosto refinado, deseja investir em garrafas de maior valor e geralmente espera que o vendedor seja um entendedor, pois quer ter a certeza, principalmente, de que as garrafas estejam armazenadas em condições ideais, entre outros fatores.
Ele queria comprar mais 6 garrafas para completar a mala que seria enviada para um hotel na França. Foi então que ele me chamou num conhecido aplicativo de mensagens e perguntou: “Você tem Opus One?”
Eu, sem pensar muito, respondi: “Eu tenho PayPal…” acreditando que “Opus One” fosse um método de pagamento! Depois de alguns minutos de espera, ele esclareceu: “Opus One é um vinho.” Pedi desculpas mas a gafe havia sido cometida com sucesso!
Depois do ocorrido acabei descobrindo que um entendedor de vinhos precisa conhecer, nem que seja de ouvir falar, sobre os melhores e mais famosos vinhos do mundo, como por exemplo o Opus One, que é um dos mais caros vinhos dos EUA. Esse cliente, ou melhor, ex-cliente, nunca mais comprou nenhuma outra garrafa comigo. Acabei enviando as seis que ele havia comprado para o endereço indicado na França.
A noite na hora do jantar, relembrando do ocorrido, comecei a rir sozinho pela gafe que havia cometido. Opus One não era um método de pagamento, mas sim um vinho! Minha esposa, vendo isso, perguntou por que eu estava rindo. Contei o que tinha acontecido. Ela não riu, mas me olhou nos olhos e disse: “Quer vender vinhos? Vai estudar!”
E foi assim que decidi fazer o curso de Sommelier profissional na Federação Italiana Sommelier (FISAR). Uma pessoa que deseja comercializar vinhos de alto padrão qualitativo tem a obrigação de conhecer os grandes medalhões da enologia mundial. Essa lição me impulsionou a me profissionalizar e a mergulhar ainda mais fundo nesse universo.
Na minha trajetoria de aprendizado, aprendi muita coisa e ainda estou aprendendo, inclusive sobre a divisão entre vinhos do velho e do novo mundo, que é um tema fascinante.
Os vinhos do velho mundo, como os franceses, italianos e espanhóis, têm uma longa tradição e são fortemente influenciados pelo terroir e pelas técnicas tradicionais de vinificação. São elegantes, sutis e muitas vezes enigmáticos.
Já os vinhos do novo mundo, como os americanos, australianos e chilenos, são mais ousados, frutados e expressivos. Eles exploram novas regiões, experimentam diferentes variedades de uvas e utilizam técnicas modernas. A diversidade é imensa, e cada garrafa conta uma história única.
Então, queridos leitores, lembrem-se: até os sommeliers cometem gafes. O mais importante, continuar explorando e experimentando. Esse é o melhor modo de aprender cada vez mais sobre esse mundo mágico do vinhos. Não tenha medo de cometer gafes e seja feliz!
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