Na estrada para Galvão, Km 9, em Mariópolis, PR, em meio as colinas onduladas, encontra-se a Vinícola RH, um santuário para os amantes do vinho. Como sommelier formado pela prestigiosa FISAR, gosto de conhecer vinícolas e pessoas que se dedicam à vitivinicultura. Há poucos dias, tive o privilégio de visitar esta vinícola, guiado por Waner Herget, um dos proprietários e um amigo de longa data.
A Vinícola RH, conhecida por seus espumantes que capturam a essência da terra, é a joia da coroa do munícipio de Mariópolis, cidade pitoresca famosa por sua Festa da Uva e por seus vinhos coloniais. A RH, possui variedades de espumantes que incluem Brut, Extra Brut, Nature, Demi-sec e Moscatel. Cada garrafa é uma celebração da tradição e inovação.
Waner, com sua paixão contagiante, conduziu-me pela propriedade, compartilhando histórias de cada safra e o meticuloso processo de produção que dá vida aos espumantes RH. Despertando minha curiosidade, me disse que iria apresentar-me uma novidade: um novo produto que teve o início de sua jornada em janeiro de 2015, quando as uvas foram colhidas.
Antes da degustação surpresa, pela qual eu já estava ansioso, apresentei a meu amigo, uma garrafa que trouxera da Itália, o Pieve Vecchia da vinícola Fasoli Gino. Um vinho orgânico de renome, feito com as mesmas uvas do Soave, mas com um toque distinto, o passimento das uvas e o amadurecimento em barricas. Com seus 15° de teor alcoólico, é um vinho branco de raça, como gosto de chamar, um verdadeiro puro-sangue produzido com 100% de Uva Garganega.
Waner, com seu paladar refinado, apreciou a complexidade e a textura do vinho, reconhecendo a qualidade que só um vinho orgânico pode oferecer, e fez isso de uma maneira que apenas os entendedores de vinhos fazem!
Depois de degustarmos o Pieve Vecchia, Waner revelou seu tesouro escondido: um espumante inédito, uma mistura audaciosa de 70% Sangiovese e 30% Chardonnay, envelhecido em autólise por mais de oito anos. A degustação foi um ritual; a técnica que Waner usou para abrir a garrafa de espumante é conhecida como degola, um método tradicionalmente usado em pequena escala para remover as leveduras de garrafas de espumante. A técnica consiste em manter a garrafa na vertical com o gargalo para baixo, para não misturar as leveduras ao vinho, e em seguida, com um abridor de garrafas, retira-se a tampa de metal e as leveduras são eliminadas. Waner conteve a pressão com a própria mão, impedindo que o vinho fosse derramado. Foi muito prazeroso observar a habilidade do anfitrião!
Ao degustar o “tesouro escondido” da Vinícola RH, fui imediatamente transportado para um mundo de aromas complexos e texturas ricas. No paladar, a vivacidade do Sangiovese brilhou com seu caráter forte e decidido, enquanto a Chardonnay trouxe uma cremosidade sutil e elegante, com toques de pêssego e damasco. O perlage era fino e persistente, um testemunho da longa autólise, que também revelou notas de brioche e amêndoas tostadas. A acidez era notavelmente equilibrada, proporcionando uma estrutura que promete um excelente potencial de envelhecimento.
As horas passaram enquanto conversávamos sobre nuances e notas, sobre a arte e a ciência que é a vinicultura. Conversamos sobre outros assuntos aleatórios, relembrando o passado. Foi uma tarde de descobertas e camaradagem, um lembrete de que o vinho, em sua essência, é sobre compartilhar sabores, experiências e amizades.
Agora caros leitores, me permitam contar a vocês o que é autólise no precesso de produção de vinhos espumantes.
Autólise é um processo químico fundamental na produção de espumantes e vinhos brancos. Durante a fermentação, as leveduras convertem o açúcar em etanol. Quando as leveduras morrem, suas células afundam e iniciam a autólise. Nesse período, enzimas nas células mortas se transformam em novos componentes. Essas substâncias incluem polissacarídeos (que conferem textura aveludada), manoproteínas (estabilizam o vinho) e glutationa (que preserva a longevidade do vinho). O método Sur Lie prolonga o contato com as células mortas, enriquecendo os vinhos com complexidade aromática, cremosidade e estabilidade da mousse.
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