Quando morávamos na Itália, minha esposa e eu tivemos a sorte de fazer amizade com um casal encantador da Sardenha, Bruno e Norma. Bruno é um Maresciallo Carabinieri da reserva, que na hierarquia de comando é equivalente a um Sargento da Polícia Militar no Brasil. Norma trabalha como enfermeira em um hospital em Verona onde vivem, mas possuem uma casa de férias na sua terra natal na ilha Sardenha situada no Mar Mediterrâneo. Como a maioria dos sardos, eles são conhecidos por sua alegria contagiante e por compartilhar com os amigos os tesouros da enogastronomia sarda.
Certa vez, convidamos Bruno e Norma para um jantar na nossa casa. Foi quando nos presentearam com uma garrafa de vinho Cannonau e um queijo pecorino sardo. Já éramos apreciadores de vinho, mas o Cannonau nunca tinha sido um dos nossos favoritos, mas assim mesmo, agradecemos os presentes e prosseguimos com o jantar.
"O Cannonau é um vinho tinto italiano originário da região da Sardenha, especialmente notável por sua produção a partir da uva Cannonau, que é considerada uma variedade de Grenache, originária da Espanha. O Pecorino Sardo é um queijo italiano de renome, originário também da região da Sardenha. Produzido tradicionalmente a partir do leite de ovelhas da raça Sarda, que é nativa da ilha. É essa origem e a qualidade do leite utilizado que conferem ao Pecorino Sardo seu sabor e caráter distintos."
Minha esposa e eu, havíamos adquirido um hábito. Quase todas as noites degustávamos uma taça de vinho, conversando sobre os acontecimentos do dia, ou assistindo um filme. Numa dessas noites, decidimos dar uma outra chance ao vinho Cannonau, que não agradava muito nosso paladar, então, após o jantar, decidimos abrir a garrafa que havíamos recebido de presente há alguns dias.
Como esperado, o vinho ainda não conseguia nos conquistar. No entanto, minha esposa sugeriu que experimentássemos o Cannonau junto com o queijo pecorino sardo. Era uma ideia simples, mas que mudaria completamente nossa percepção.
Quando a primeira mordida do queijo se combinou com um gole do Cannonau, algo mágico aconteceu. Parecia que aqueles sabores estavam destinados a estar juntos. O vinho, que antes nos parecia comum, agora se transformava em uma sinfonia de sabores, realçando as características únicas do queijo. Essa experiência profunda foi um divisor de águas. Passamos a entender de forma mais profunda a importância da harmonização entre vinho e comida.
Certa vez, um respeitado sommelier chamado Andrea Da Ros, o qual foi meu professor de harmonização do curso de Sommelier que frequentei na FISAR disse: “Comida e vinho devem existir um para servir ao outro!” Esse tem sido o principal parâmetro na minha evolução cultural enológica.
Desde aquela noite, nossas degustações de vinho se tornaram muito mais do que uma simples bebida. Eram celebrações da conexão entre sabores. Apreciar uma taça de vinho à noite se tornou uma experiência enriquecedora, uma oportunidade de explorar a interação única entre vinho e comida. Fazíamos experiencias incríveis diversificando vinhos e comidas. Umas mais afortunas, outras nem tanto!
Aquela garrafa se transformou em uma lição valiosa para nós. Agora, sempre que brindamos com vinho, lembramos daquela noite que transformou nosso entendimento. Aquela experiencia foi como se a cada gole, sentíssemos a magia da Sardenha e a alegria de uma amizade verdadeira.
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