Era agosto, e o aniversário da minha esposa estava chegando rapidamente. Já havia algum tempo desde que eu começara minha aventura no mundo dos vinhos na Itália, mas meu entendimento sobre essa cultura estava apenas engatinhando. Meu curso de sommelier ainda não estava nem programado para começar, e teria acontecido quase um ano depois.
Minha esposa sempre teve um apreço especial por vinho, possivelmente porque ela é filha de um viticultor que vende a maior parte de suas uvas, mas também produz seu próprio vinho para consumo pessoal. Eu estava começando a apreciar ainda mais essa maravilhosa bebida, especialmente por ter encontrado uma companheira ideal.
No dia do aniversário dela, decidi criar uma surpresa especial, sob as cintilantes estrelas às margens do deslumbrante Lago de Garda. Para surpreendê-la, pedi que escolhesse uma garrafa da nossa modesta adega.
Ela, atraída pela fama, expressou o desejo de provar um Brunello, mas hesitou ao saber o preço. Tínhamos um Brunello Pian delle Vigne, da renomada vinícola Marchesi Antinori, que eu erroneamente acreditava ser uma garrafa de alto valor, custando cerca de 45 Euros. Pobre de mim! Eu ainda não compreendia o verdadeiro significado de uma garrafa de vinho cara, principalmente porque éramos novatos nesse mundo enigmático dos vinhos.
O Brunello di Montalcino é um dos tipos vinho tinto mais renomados da Itália e do mundo. Ele é produzido na região de Montalcino, na Toscana, a partir da uva Sangiovese Grosso.
Naquele dia especial, decidimos então escolher aquela garrafa de Brunello. A safra não era nem muito antiga, nem muito jovem, mas, na verdade, na época, por falta de conhecimento, a safra era apenas um detalhe sem importância.
Preparei alguns petiscos deliciosos, um cobertor aconchegante para nos acomodarmos à beira do lago, toalhas macias e tudo o que precisávamos para acender uma fogueira. Apesar do calor que fazia, sabíamos que a noite à beira do Lago de Garda seria mais fresca.
Sem entender muito sobre vinhos, coloquei a garrafa em um balde de gelo, com medo de que, durante a quase uma hora de viagem até o local, o vinho pudesse aquecer demais. Peguei duas belas taças, um luxo que tínhamos, mesmo sem compreender totalmente a arte da degustação de vinhos.
Finalmente, chegamos ao nosso destino, preparamos tudo com cuidado, acendemos a fogueira e a ansiedade para degustar aquele famoso vinho, o lendário Brunello di Montalcino, estava no auge. A noite estava espetacular, com um céu estrelado e uma lua que iluminava o lago de maneira mágica.
Servi o vinho, brindamos com aquela bebida "geladinha" e parecia que tudo estava perfeito. No entanto, quando tomamos o primeiro gole, nossa alegria desmoronou. O vinho não exalava aromas, e o sabor era amargamente decepcionante. Era algo horrível, impossível de beber.
Nossa noite de sonhos se transformou em pesadelo. O frescor da noite começou a nos castigar, e desapontados, acabamos tomando a difícil decisão de voltar para casa.
Hoje, com mais conhecimento sobre vinhos, entendo que a temperatura excessivamente baixa inibiu seus aromas e intensificou seu amargor. É uma lição que nunca esqueceremos, e uma história que sempre será contada com um toque de diversão e arrependimento. Afinal, foi a noite do "Brunello Congelado" que nos ensinou a importância de apreciar um bom vinho à temperatura certa.
Depois desse episódio, tive muitas outras oportunidades de provar Brunellos, e mesmo não sendo o meu preferido, hoje em dia sou capaz de identificar uma garrafa de qualidade e evitar gafes como aquela!
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