Num final de semana, decidimos alugar uma cabana nas majestosas Montanhas Dolomitas. Enquanto nos preparávamos para partir, desci até a adega em busca de uma garrafa séria e antiga. Olhei para as prateleiras e vi uma garrafa coberta de poeira, de modo que não se podia nem ao menos ver o rótulo. Coloquei o vinho dentro de uma embalagem de isopor, sem conferir o que seria.
Depois de umas duas horas de estrada, finalmente chegamos ao nosso destino: a cidade de Cortina d’Ampezzo. A beleza natural do lugar já nos envolveu com uma sensação de calma e relaxamento. Ao nos aproximarmos da cabana que havíamos alugado, ficamos encantados com sua arquitetura rústica e charmosa, que se misturava harmoniosamente com a paisagem ao redor. Deixo a dica: se um dia tiverem oportunidade, visitem essa região. Tenho certeza que vocês irão amar!
Ao entrarmos, a varanda capturou nossa atenção. Havia uma pequena mesa de madeira rústica sobre a qual logo colocaríamos nossas taças de vinho para brindar aquele momento especial. O fundo revelava uma vista deslumbrante das montanhas Dolomitas no final da tarde. A luz dourada do pôr do sol criava um espetáculo de luz e sombra.
Foi somente então que olhei melhor para a garrafa antes de limpá-la. Gravado no gargalo havia um cacho estilizado e a inscrição GAJA 1859. Era um Barbaresco Gaja safra 1985, que eu havia comprado juntamente com um lote de vinhos antigos, com intensão de vendê-los. Aquela garrafa estava com 34 anos.
Quando chegou a hora de abrir a garrafa, hesitei devido ao seu alto valor comercial. No entanto, envolvido pelo ambiente acolhedor e sem medo de quebrar a rolha - como aconteceu no teste final do meu curso de sommelier - decidi abrir a garrafa. Para nossa surpresa, a rolha saiu perfeita, úmida e sólida. Servi as taças com uma pequena quantidade de vinho e esperamos que ele arejasse. O vinho estava vivo e não aparentava ter mais de 30 anos.
Nos acomodamos nas duas espreguiçadeiras que convidavam para um momento de descanso e contemplação, e começamos a degustar nossa garrafa de Barbaresco Gaja 1985, envolvidos pela tranquilidade do lugar. O vinho revelou aroma e sabor refinados, sofisticados e sutis. A complexidade e a riqueza de aromas e sabores eram intensas e exóticas, vibrantes e cheias de vida.
Depois de algum tempo, o tanino ainda estava vivo e a estrutura em equilíbrio refinado. Quando recém-aberto, parecia mais explosivo e vibrante. Nessa altura, já havíamos superado o momento de alegria e estávamos no momento de reflexão. E nesse momento sublime nos olhamos e dissemos as seguintes palavras filosóficas: “Caramba, que bom!” O que a princípio tinha ar de arrependimento, se transformou numa das melhores garrafas que já bebi.
No dia seguinte, decidi pesquisar e descobri algumas curiosidades sobre o Barbaresco Gaja 1985: Gaja é uma das vinícolas mais prestigiadas e históricas do Piemonte, conhecida por produzir vinhos Barbaresco de alta qualidade. A safra de 1985 foi particularmente notável por ter sido um excelente ano para os vinhos do Piemonte, resultando em vinhos com grande potencial de envelhecimento. Por isso não deveria ter sido surpresa o Barbaresco Gaja 1985 ter resistido tão bem ao teste do tempo."
Caros leitores, eu me despeço aqui. Mas para quem quiser continuar a leitura e saber um pouco mais sobre o vinho Barbaresco, logo abaixo vocês encontrar o post relacionado, "O Príncipe Barbaresco: A Porta de Entrada para o Mundo do Nebbiolo". E não esqueçam, que cada garrafa de vinho tem uma história para contar! Saúde!
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